Breve história das Palavras Cruzadas
Esta
página descreve o popular passatempo das Palavras Cruzadas, juntamente com um
breve resumo histórico e algumas curiosidades. Esta página inclui as seguintes
secções:
As Palavras
Cruzadas são um dos mais populares passatempos nos dias que correm e, embora
recentemente tenham vindo a perder terreno relativamente a outros tipos de
passatempo, tal como os Sudoku, ainda mantêm uma respeitável vantagem.
Praticamente não existe jornal ou revista que se preze que não tenha uma secção
de passatempos incluindo um ou mais problemas de Palavras Cruzadas. Mais
recentemente, a Internet veio dar um novo impulso às Palavras Cruzadas,
existindo vários sítios dedicados ao tema, alguns deles oferecendo a
possibilidade de resolver problemas em linha.
A versão mais
comum do problema tem este aspecto:
Como se pode ver
na figura supra, um problema de Palavras Cruzadas toma a forma de uma grelha de
quadrados pretos e brancos. O objectivo é preencher os quadrados brancos com
letras, formando palavras que podem ser lidas na horizontal e na vertical. A
palavra a colocar numa dada posição da grelha corresponde à chave que se obtém
resolvendo o enunciado correspondente a essa posição. Os quadrados pretos ou
“sombras” servem para separar palavras na mesma linha ou coluna. As colunas e
linhas são numerados, o que possibilita identificar os enunciados que lhes
correspondem.
As palavras são
colocadas na grelha usando exclusivamente maiúsculas. Além disso ignoram-se
também os acentos e as cedilhas.
Tendo por base o
formato standard foram, ao longo do tempo, aparecendo muitas variantes. Por
exemplo em Portugal são muito populares as Palavras Cruzadas directas, na quais
os enunciados, geralmente com um número reduzido de palavras, aparecem dentro
da própria quadrícula.
Uma outra
variante muito comum consiste em esconder as sombras. Desta forma o problema
torna-se muito mais difícil, uma vez que além de descobrir a chave correspondente
a um enunciado é necessário colocar a palavra no local exacto.
A actividade de
construção de problemas de Palavras Cruzadas têm o nome de cruciverbalismo e a
um criador deste tipo de problemas chama-se cruciverbalista.
Contrariamente ao
que possa pensar-se, as Palavras Cruzadas, enquanto passatempo, são de invenção
relativamente recente. Há no entanto exemplos de cruzamento de palavras que
recuam ao antigo Egipto (1350 a.C). Mais recentemente, em Inglaterra, no século
XIX, apareceram os chamados "quadrados mágicos", um jogo que era
impresso em livros infantis e periódicos.
No dia 21 de
Dezembro de 1913 um jornalista inglês de Liverpool chamado Arthur
Wynne publicou um passatempo no New York World a que chamou
"word-cross". Este passatempo, o qual pode ser visto na figura supra,
continha a maior parte dos elementos deste tipo de problemas, tal como os
conhecemos hoje em dia. Mais tarde, o passatempo passou a ser conhecido por
"crossword", traduzido em Português como Palavras Cruzadas.
Durante a
década de 20 outros jornais adoptaram o recentemente descoberto passatempo e em
apenas uma década as Palavras Cruzadas apareceram em quase todos os jornais
americanos. Dez anos mais tarde as Palavras Cruzadas atravessaram o Atlântico e
popularizaram-se de forma impressionante também na Europa onde foram adoptadas
como um passatempo adulto sério. Com o tempo, as regras foram sendo
desenvolvidas e estabilizadas.
A primeira
ocorrência de um problema de Palavras Cruzadas numa publicação inglesa é
atribuída à revista Pearson's Magazine em
Fevereiro de 1922 e o primeiro passatempo deste tipo no Times apareceu
no dia 1 de Fevereiro de 1930. O ingleses rapidamente desenvolveram o seu
próprio estilo de Palavras Cruzadas, muito diferente das americanas. As
Palavras Cruzadas crípticas, por exemplo são uma invenção inglesa, tendo as
respectivas regras sido estabelecidas por A. F. Ritchie e D. S.
Macnutt.
Actualmente,
as Palavras Cruzadas são consideradas o passatempo mais popular no mundo
inteiro e apreciadas por milhões de pessoas. O entusiasmo é tanto que existem
há anos grandes torneios, como o Torneio Norte-Americano de Palavras Cruzadas
ou o Campeonato Mundial de Passatempos.
Existem
Palavras Cruzadas para todos os gostos: com diferentes níveis de dificuldade,
infantis ou temáticas, clássicas, directas e outras.
A Internet
constitui a mais recente conquista para os amantes das Palavras Cruzadas: É
possível agora encontrar sítios donde se pode descarregar problemas para
imprimir e resolver em papel da forma tradicional ou mesmo resolver os
problemas em linha e conferir as respostas no momento. Outros sítios publicam
pacotes de problemas e programas que permitem resolver os problemas no seu
computador. Veja-se por exemplo As Novas Cruzadas.
O mais remoto
antepassado conhecido das Palavras Cruzadas é talvez o caso da estela
encontrada na cidade de Tebas no túmulo do sumo sacerdote Neb-wenenef
nomeado para aquela função durante o primeiro ano do reinado de Ramsés II,
faraó da XIX dinastia (1320 - 1200 a.C.). No lado esquerdo do corredor que dá
acesso à câmara interna do túmulo, encontrou-se a estela, uma grande pedra na
qual foram gravadas imagens humanas e uma série de hieróglifos. O texto da
estela contém apenas uma série de frases elogiosas sobre o deus Osíris,
protector dos mortos, como era usual naqueles tempos. Mas a forma pela qual os
hieróglifos foram dispostos surpreendeu os arqueólogos. São ao todo 11 linhas
horizontais. Bem no centro delas, uma coluna foi marcada para indicar que os
hieróglifos, lidos no sentido vertical, também fazem sentido. Ou seja, as
linhas da coluna delimitam uma frase completa para ser lida de cima para baixo,
formada por alguns dos símbolos das outras frases gravadas no sentido
horizontal.
Um antepassado
mais recente, datado de 79 d.C., é o caso de um quadrado descoberto em 1930 nas
ruínas da antiga colónia romana de Pompeia. O quadrado tem cinco letras de cada
lado, podendo as palavras ser lidas nos sentidos horizontal e vertical.
Nos anos 20,
quando as Palavras Cruzadas se estavam a tornar extremamente populares nos
Estados Unidos, a Pennsylvania Railroad, empresa de transportes
ferroviários, começou a imprimir problemas deste tipo no verso dos cardápios dos
vagões-restaurante. Foi imitada pela sua concorrente, a B&O Railroad,
a qual foi ao ponto de colocar dicionários nos seus comboios para ajudar os
passageiros a resolvê-los.
Na década de 70 Neil
Nathanson, ajudado pelo seu compatriota Merl Reagle, um famoso
cruciverbalista americano, publicou no San Francisco Sunday Examiner &
Cronicle um problema de Palavras Cruzadas em que pedia a mão da sua futura
esposa Leslie. Em 1998, outros dois pedidos semelhantes juntaram casais
americanos.
Na década
de 30, na Alemanha, os opositores ao partido nazi, fizeram das Palavras
Cruzadas um meio secreto de comunicação. Já na Segunda Guerra Mundial, Hitler,
ciente de que os ingleses gostavam de fazer Palavras Cruzadas, deixou cair
sobre Londres folhetos com o passatempo, contendo propaganda política.
Durante a Segunda
Guerra Mundial, as forças armadas britânicas recrutaram especialistas em
Palavras Cruzadas para tentar decifrar códigos secretos usados pelos Alemães.
Em 1925, o
governo húngaro determinou que as Palavras Cruzadas deveriam ser submetidas à
censura oficial antes de publicadas, pois poderiam estar a ser usadas para
divulgar ideias subversivas.
À semelhança do
que acontecera na Hungria em 1925, no governo brasileiro da ditadura militar,
temendo que as Palavras Cruzadas pudessem conter mensagens tendenciosas ordenou
que os passatempos fossem supervisionados pela censura. Algumas expressões eram
suspeitas, como “Cavaleiro da Esperança”, termo histórico encontrado nas
enciclopédias e, por coincidência, apelido de Luís Carlos Prestes, secretário
geral do Partido Comunista Brasileiro.
Já imaginou fazer
Palavras Cruzadas em duas línguas? No Canadá existem passatempos bilíngues: As
definições em francês referem-se às respostas horizontais, que devem ser
escritas em inglês; as definições em inglês levam a respostas verticais, em
francês.
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de correio electrónico em As
Novas Cruzadas.
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